Cenário de volta segue indefinido no ensino público estadual do Ceará

No ensino médio, apenas alunos do 3º ano retornaram ao cronograma presencial de aulas. Esta, no entanto, é uma realidade exclusiva da rede particular do Ceará, já que na pública estadual, faltando pouco mais de um mês para o fim do ano letivo, não há definição sobre a retomada do calendário in loco de estudantes matriculados na última etapa da educação básica.

A Secretaria da Educação (Seduc) afirma reiteradamente estar “construindo um diálogo para decidir a melhor data”, mas será que ainda vale a pena a reabertura dessas unidades?
As aulas presenciais foram suspensas no Ceará no mês de março, após a confirmação dos primeiros infectados pelo novo coronavírus. As escolas privadas tiveram autorização para voltar a partir do dia 1º de setembro com a educação infantil. Em 1º de outubro, foi a vez do 1º, 2º e 9º ano do ensino fundamental (EF) e o 3º do médio com 35% da capacidade. Desde o último dia 26 de outubro, turmas do 3º ao 8º do EF também receberam liberação do governo local.

Em todo o Brasil, segundo levantamento do Diário do Nordeste, outros nove estados compartilham da mesma indefinição. Dessa forma, alunos e professores seguem com atividades a distância sem perspectiva para a interrupção do ensino residencial. Por outro lado, 12 estados já retomaram aulas e outras cinco unidades federativas, incluindo o Distrito Federal, optaram por voltar somente no próximo ano, sem especificar o mês em que as escolas serão reabertas.

“Se nós passamos a maior parte do ano nos esforçando para manter a qualidade do ensino, utilizando as estratégias do ensino remoto, voltar agora não faz nenhum sentido, porque já estamos finalizando o ano letivo. É uma questão tanto de saúde pública, como também, pedagogicamente, não seria adequado. O próprio tempo de se adaptar à nova realidade. Até porque não seria volta ao que era antes. Poderia ter uma escala, ensino híbrido. Seria inviável esse tempo para adaptar, diante da proximidade do fim do ano letivo”, avalia Camilla Rocha, doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A docente reforça que retomada das aulas, assim como de outras atividades, deve ser efetuada com “muita cautela”, uma vez que se trata de uma situação inédita para a geração atual.
“Assim como em tantas outras instâncias da sociedade, como o comércio e os restaurantes, as escolas também precisam se adaptar. E há essa questão de análise das possibilidades, da viabilidade, e se seria seguro ou adequado”.
Citando como exemplo o Ensino Superior, a professora acredita que o sistema remoto tem sido suficiente, por hora, para dar conta do que é proposto aos estudantes.

No caso do Ensino Médio, segundo ela, é possível que a situação seja similar. “É um desafio para o qual não temos uma resposta ainda”, declara.
As aulas a distância têm resultado em exaustão para alguns alunos do Ensino Médio na rede estadual, conforme relata a estudante Vitória Freitas, de 18 anos. Ela frequentava a Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Professora Adalgisa Bonfim Soares, em Fortaleza, e acredita que, com as aulas presenciais, teria mais oportunidade de aprendizagem e preparo para as provas de vestibular.

“Está sendo um momento extremamente desgastante, no meu ponto de vista. Estamos sendo muito cobrados apesar da grande compreensão por parte da escola, pois precisamos dar resultados. E com as aulas remotas, esses resultados têm sido um grande desafio. Com as aulas presenciais, não teríamos tais dificuldades”, afirma.

Para Reginaldo Pinheiro, presidente do Sindicato dos Professores e Servidores da Educação e Cultura do Estado e Municípios do Ceará (Apeoc), a rede pública deve encerrar o segundo semestre com atividades remotas. O representante da entidade justifica que o atual cenário epidemiológico da Covid-19 somado às dificuldades das escolas adaptarem os protocolos sanitários impossibilitam a volta dos alunos às salas de aula físicas.

Diálogos

“Nós entendemos que a pandemia não está controlada, tanto é que, nos últimos dias, tivemos aumento de casos, principalmente em Fortaleza. Já nas visitas que nós fizemos às escolas, constatamos que ainda não estão 100% adequadas ao Protocolo Setorial 18”, afirma, se referindo às normas sanitárias impostas para a reabertura das instituições de ensino. “Às vezes, a unidade tem até uma boa condição física, mas faltam EPIs, sinalização e curso preparatório para a questão da limpeza”.

Embora seja contrária ao retorno presencial neste ano, a Apeoc mantém um “diálogo aberto” com a Seduc para discutir o fechamento do ano letivo e o planejamento pedagógico e estrutural para 2021, garante Reginaldo. Segundo adianta, o Governo do Estado poderá, nos próximos dias, publicar uma portaria com base nas negociações que estão sendo feitas junto à entidade para determinar os rumos do calendário escolar da rede estadual.

“Está havendo um processo de negociação com a Seduc, inclusive estamos discutindo uma espécie de portaria que vai tratar disso. Está sendo trabalhada, mas eu não posso adiantar porque ainda não está fechada. A nossa expectativa é que por essa semana ou, no máximo, na próxima, já haja uma posição oficial dialogada com a categoria”, afirma.

Por meio de nota, a Seduc comunicou que as escolas da rede pública estadual finalizarão o ano letivo de 2020 a partir do dia 9 de dezembro, quando serão cumpridos os 200 dias letivos com 800 de carga horária. Além disso, a Pasta disse que a consulta pública para avaliar o interesse dos estudantes e seus pais ou responsáveis pelo retorno continua em andamento. “No momento, não é possível informar dados consolidados”, complementou.

FONTE: Diário do Nordeste.

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