Ausência do El Niño e La Niña modifica análise para quadra chuvosa no Ceará

De um modo geral, os fenômenos El Niño e La Niña interferem no volume pluviométrico da quadra chuvosa (fevereiro a maio) no Ceará. Apesar de não serem os únicos sistemas indutores (ou inibidores) de chuva, são eles que possuem maior relação com o período de singular expectativa para o sertanejo. Para o início do próximo ano, porém, órgãos meteorológicos apontam a inércia de ambos os fenômenos. “Por enquanto, a situação atual é de neutralidade no Oceano Pacífico Equatorial”, pontua a chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Morgana Almeida.

A especialista explica que, com este cenário, há maior probabilidade de chuvas dentro da normalidade para os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. “E ligeiramente acima da média no centro norte do Estado”, acrescenta Morgana. Diferente do que ocorre no Ceará, quando a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) realiza prognósticos para a pré-estação (dezembro e janeiro) e estação chuvosa, o Inmet trabalha com previsões trimestrais, dissociadas da nomenclatura utilizada para o período. “Em janeiro faremos outra análise para o trimestre janeiro/fevereiro/março”, acrescentou.

A tendência, porém, é de que essa neutralidade siga ao longo do primeiro semestre de 2020, conforme o Centro Americano de Meteorologia e Oceanografia (NOOA). Diante deste perfil, a propensão é de que as chuvas, embora dentro da média, fiquem mais distribuídas no Nordeste a partir de fevereiro, mês que marca o início da quadra chuvosa no Estado.

O meteorologista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), Maicon Veber, explica que, nos anos em que há a presença do El Niño, a tendência é de chuvas fracas, isto é, abaixo da média histórica. “Quanto mais forte for a atuação deste fenômeno, menor são as chances de chuvas dentro ou acima da normalidade”, pontua. Morgana, entretanto, adverte que este não pode ser o único indicador. “Temos também que observar a dinâmica do Atlântico. É a soma de fatores que determina a intensidade das chuvas no Nordeste brasileiro”, explicou.

Na última década, o padrão foi variado, corroborando com a análise mais abrangente da chefe do Inmet. Nos anos de 2018 e 2019, houve El Niño, porém com fraca atuação. O resultado ao fim da quadra chuvosa passada foi de média pluviométrica 5,7% acima da média, que é de 800,6 milímetros para o Ceará. Já entre 2012 e 2017, as chuvas ficaram abaixo da média. Neste intervalo, o Estado esteve sob influência, em anos distintos, de ambos os fenômenos. Já em 2009, ano com maior volume pluviométrico (1225.7 mm) da década, a La Niña esteve com forte atuação, fato que só ocorreu em sete oportunidades desde que o NOOA começou a medição, em 1950.

Outros indicadores

Com a ausência do El Niño e La Niña, uma das principais influências para as próximas chuvas será a temperatura das águas superficiais do Atlântico Sul. Caso essas águas estejam aquecidas, o cenário será favorável às chuvas. Do contrário, se houver o seu resfriamento, a tendência será predomínio de secas na região. “É um observador importante, mas no Atlântico Sul Tropical as mudanças são mais rápidas e só a partir do fim de dezembro ou janeiro, teremos uma definição melhor”, pontuou Almeida. Essa temperatura das águas é importante, explica Veber, pois é ela quem exerce influência na formação de nuvens de chuvas para o Ceará.

O meteorologista da Funceme, Raul Fritz, acrescenta outro fator a ser observado. “No Oceano Pacífico Tropical, é exatamente o oposto. Para a ocorrência de boas chuvas é favorável a temperatura da água superficial mais fria. No caso do Oceano Atlântico Sul, é ele quem atrai a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é o principal sistema indutor de chuvas para Ceará”, detalhou.

O prognóstico para a quadra chuvosa de 2020 deve ser divulgada, pela Funceme, Cptec e Inmet, no próximo mês.

Chuva causa transtornos em Fortaleza

Voltou a chover com intensidade em Fortaleza, após seis meses. Entre as 7 horas de terça-feira e 7 horas de ontem (11), a Funceme registrou pluviometria de 20.8 milímetros. A última vez que a capital cearense havia tido chuva acima dos 20 mm foi em 3 de julho, quando o órgão contabilizou 26 mm.

O evento pluviométrico aliviou o intenso calor dos últimos dias, cujas médias se aproximavam dos 27º Celsius, mas também causaram transtornos em vários pontos da cidade. A cidade teve pontos de alagamentos, congestionamentos e acidentes. Pelo menos, 20 semáforos também apresentaram problemas em diversos cruzamentos, e uma árvore caiu no bairro Damas. Ninguém ficou ferido. A Defesa Civil disse, em nota, ter acompanhado as ocorrências.

Essas chuvas, também verificadas em Messejana (18 mm), Pacoti (1,4 mm) e Itaitinga (1 mm), estão associadas à atuação de um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN). Para hoje, a previsão é de nebulosidade variável em todas as regiões, com possibilidade de chuva na faixa litorânea e no Cariri. O mês de dezembro marca o início da pré-estação chuvosa no Ceará que se estende até janeiro. Para este período, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/Inpe prevê chuva abaixo da média histórica. Já o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta ocorrência de precipitações dentro da normalidade.

De acordo com a Funceme, a média histórica de precipitações para o período (dezembro e janeiro) é reduzida. O bimestre novembro/dezembro tem média de 37.4 milímetros e o mês de janeiro, por sua vez, tem volume médio em torno dos 98 mm. Já se considerado o trimestre – que vai de novembro a janeiro – o esperado é de 136.1 milímetros.

FONTE: Diário do Nordeste.

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