Número de assassinatos de meninas de 10 a 19 anos triplica
Somente até julho deste ano, 77 meninas entre 10 e 19 anos foram assassinadas no Estado. Esse número é três vezes maior que o registrado no mesmo período em 2017 (24) e quase cinco vezes maior que o registrado em 2016 (16). Em Fortaleza, na comparação entre os sete primeiros meses de 2016 e 2018, esse dado saltou de 4 para 41. E os números só crescem. Até 28 de novembro último, 105 adolescentes foram mortas no Estado, conforme dados disponibilizados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) em seu site.
Para debater o tema, audiência pública foi convocada na tarde de ontem na Assembleia Legislativa. Representantes de movimentos sociais, parlamentares e integrantes do Governo do Estado discorreram sobre a necessidade de políticas públicas segmentadas para esse público, visando evitar mais mortes. Entre as integrantes da mesa, estava a presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, Regina Sousa (PT-PI), vice-governadora eleita do Piauí.
Para ela, espaços como a audiência são importantes para que se possa compreender melhor o fenômeno, única forma possível de encontrar soluções. “Nós não temos receitas. Agora, que tem que feita alguma coisa, tem. O Estado brasileiro tem que assumir suas mazelas, não pode deixar para as ONGs”, afirmou ao O POVO. “Essa questão vem chamando a atenção. No momento, o Ceará está em mais evidência, mas, com certeza, isso acontece nos outros estados”.
Entre os dados destacados no encontro está a proporção de assassinatos de meninas. Em média, mulheres são em torno de 10% do total das vítimas de assassinatos, destaca o Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), baseado no Atlas da Violência, organizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). No Ceará, conforme o CCPHA, as adolescentes já representam quase 15% dos assassinatos totais na faixa etária – 77 de 514.
Em Fortaleza, este número já é de 21% ? 41 de 189. Até julho, 22 cidades do Ceará registraram assassinatos de meninas. Fortaleza lidera a lista. Em seguida, vêm Caucaia (7), Pacajus (5) e Maranguape (4).
Juliana Araújo, do Grupo de Mulheres do Jangurussu, cobrou na audiência o fortalecimento de políticas públicas. Moradora da comunidade do Gereba, no bairro Jangurussu, ela se considera uma exceção entre as meninas do bairro, justamente por ter tido acesso a projetos sociais. Como filha de um ex-catador que trabalhava na antiga rampa do bairro, ela era atendida por projetos de arte e educação. Hoje, aos 26 anos, é formada em administração. “Se não tem nada para disputar a consciência desse jovem, a gente já perdeu ele, ela”, diz citando como criminosos, sem outros exemplos ao redor, acabam tornando-se referências na comunidade.
Critério
Em seus dados, a SSPDS ainda não disponibiliza registros que apontem quantas dessas mortes se deram em razão de a vítima ser mulher.
Mortes de meninas
Entre janeiro e julho deste ano, 77 meninas entre 10 e 19 anos foram mortas. Esse número em 2017 era 24; em 2016, 16.
Mais da metade dessas mortes (41) ocorreram na Capital.
Em Fortaleza, o aumento de mortes de meninas foi de 412,5%. Houve redução de 30,8% na morte de meninos no mesmo período.
Do total de adolescentes mortos em Fortaleza, 21% eram do sexo feminino.
No Estado, esse número é de 15%. Em outras faixas etárias, essa proporção costuma girar em torno de 10%.
Outras 21 cidades registraram mortes de meninas.
Nesse mesmo período, 514 adolescentes foram mortos no Estado.
FONTE: O POVO Online.