Bolsonaro critica ligações com os regimes bolivianos e cubanos
Ao decorrer da campanha eleitoral, o então candidato Jair Bolsonaro criticou a política externa das administrações governamental petista e a de Michel Temer, especialmente as ligações com os regimes bolivarianos e o cubanos. Mesmo após vencer a disputa, Bolsonaro continua no ritmo das eleições. Repisa tópicos apresentados nos últimos meses com a mesma acidez e, assim, provoca o delírio de boa parte de seus eleitores. O problema é que o peso das palavras de um candidato difere da de um futuro mandatário. Afirmações causa expectativas e produzem resultados nem sempre previsíveis. Bolsonaro precisa se policiar, mas dia após dia se envolve em polêmicas de difícil solução.
O capítulo mais recente diz respeito à presença de médicos cubanos no Brasil por meio do programa Mais Médicos. Havana cancelou o acordo com Brasília para exportar médicos depois de acusar Bolsonaro de tecer considerações desrespeitosas aos profissionais daquele país. Em razão disso, milhares de médicos já estão retornando a Cuba. O capitão reformado do Exército diz que os profissionais cubanos são “escravizados” pela “ditadura” comunista. Sustenta tal posição porque Cuba retém cerca de 70% do dinheiro pago pelo o governo brasileiro e só repassa aproximadamente R$ 3 mil por mês. Estimulado por médicos brasileiros, Bolsonaro também falou em revalidar o diploma dos cubanos para que pudessem exercer a profissão em solo brasileiro, dificultando a permanência deles.
O fim do acordo para a manutenção dos mais de 8 mil médicos cubanos no Brasil criou um embaraço. Centenas de prefeitos estão preocupados, uma vez que os caribenhos atuam na ponta, responsáveis por procedimentos de menor complexidade. O trabalho preventivo realizado por eles também ajuda a reduzir a necessidade de as pessoas recorrerem aos hospitais. Não há quem substitua os cubanos prontamente. Questionado sobre os desdobramentos da questão, Bolsonaro, disse que não poderia se dedicar ao assunto porque só assumirá em janeiro, mas não poupou os prefeitos que preferiram contar com cubanos em vez de brasileiros. Enquanto isso, diz que Temer tem tomado providências para lidar com o caso.
Em que pese ter feito um diagnóstico correto sobre as anomalias do programa cubano de exportação de médicos, o presidente eleito poderia ter imaginado uma transição até poder abrir mão definitivamente dos profissionais cubanos. O Brasil tem questões demais a resolver. Não precisa que cada uma delas seja cercada de sobressaltos.
FONTE: O Globo.