Empresas japonesas preferem acolher trabalhadores estrangeiros qualificados, mostra pesquisa
Tóquio – A maioria das empresas japonesas apoia o afrouxamento do sistema de imigração do país para lidar com uma grave escassez de mão de obra, mas favorece estrangeiros qualificados que podem se adaptar ao local de trabalho, e não um fluxo de trabalhadores não qualificados, mostra uma pesquisa da Reuters divulgada nesta segunda-feira (20).
O mercado de trabalho do Japão sofre com a pior falta de mão de obra em quase meio século e o governo abriu a porta para permitir que estrangeiros trabalhem em áreas como agricultura, cuidados a idosos e lojas de conveniência.
Mas em uma sociedade que há muito valoriza sua homogeneidade, o governo insiste que essas medidas não equivalem à imigração aberta. A Reuters Corporate Survey descobriu que as empresas japonesas fazem uma distinção entre estrangeiros autorizados a trabalhar temporariamente porque passam por testes de adequação, o que não ocorre com imigrantes não qualificados.
O governo divulgou em junho planos para dar permissões de trabalho de cinco anos para estrangeiros em certas categorias. As autoridades também estão considerando permitir que trabalhadores estrangeiros que passarem por certos testes permaneçam indefinidamente e tragam suas famílias – o que representaria grandes mudanças para o Japão.
A pesquisa mensal da Reuters revelou que 57 por cento das grandes e médias empresas japonesas empregam estrangeiros e 60 por cento preferem um sistema de imigração mais aberto. Mas apenas 38 por cento são a favor de permitir que trabalhadores não qualificados entrem no país para aliviar a escassez de mão de obra.
“No geral, as empresas japonesas continuam cautelosas em aceitar trabalhadores estrangeiros”, disse Yoshiyuki Suimon, economista sênior da Nomura Securities, que analisou os resultados da pesquisa.
“Eles estão conscientes da necessidade de aceitar imigrantes no longo prazo, mas por enquanto estão tentando lidar com a escassez de mão de obra através do investimento em automação e tecnologia. Restaurantes e varejistas também estão fazendo uso ativo de estudantes estrangeiros que têm permissão para trabalhar 28 horas por semana”, disse ele.
A pesquisa, realizada para a Reuters pela Nikkei Research entre 1º e 14 de agosto, analisou 483 empresas com capital de pelo menos 1 bilhão de ienes.
Enquanto algumas empresas viam trabalhadores estrangeiros não qualificados como fonte de mão de obra barata, outras se preocupavam com o custo para seus negócios de educação e administração, citando barreiras culturais e linguísticas.
O número de estrangeiros no Japão mais do que dobrou na última década, para 1,3 milhão, mas isso permanece abaixo de 2% da força de trabalho total, comparado a 10% na Grã-Bretanha, 38% em Cingapura e 2% na Coreia do Sul.
Alguns entrevistados expressaram preocupação de que abrir as portas para trabalhadores estrangeiros seria uma ameaça à segurança pública e à estabilidade social, alguns citando a Europa, onde as atitudes em relação à imigração se endureceram, e aumentariam os custos de bem estar.
“Funcionários estrangeiros em nossa empresa são engenheiros que se formaram em universidades japonesas”, disse um gerente de uma empresa de máquinas elétricas, que respondeu à pesquisa.
“Esses funcionários são trabalhadores que falam japonês e estudaram a teoria da tecnologia na universidade”, disse o gerente. “Vamos considerar aceitar esses trabalhadores, mas não há espaço para estrangeiros não qualificados em nossa empresa”, ressaltou.
O resultado da pesquisa sugere que as empresas estão ligeiramente mais receptivas a estrangeiros em relação ao levantamento da Reuters em março de 2017, com pessoas que empregam estrangeiros crescendo 5 pontos, para 57%, e aquelas que desejam contratar estrangeiros não qualificados aumentando 4 pontos, para 38%.
FONTE: Reuters.